A obsolescência programada é uma prática comum no mercado de eletrônicos e informática. Trata-se de uma série de medidas aplicadas pela indústria para tornar celulares, computadores, notebooks e eletrodomésticos menos duráveis, estimulando a recompra recorrente. Com isto, a obsolescência programada tem causado sérios impactos ambientais e sociais. O ciclo acelerado de produção e descarte promove o acúmulo de lixo eletrônico e o esgotamento de recursos naturais, na mesma medida que gera altas despesas e alimenta uma cultura de consumo desenfreado na população.
Empresas são acusadas de restringir a vida útil de seus produtos já há alguns anos, e diversos países têm aplicado regulamentações contra a prática. No entanto, os consumidores ainda são prejudicados diariamente pelo fenômeno, que também contribui para o desgaste ambiental. Confira, no guia a seguir, tudo sobre o que é obsolescência programada e entenda seus tipos e riscos.
Obsolescência programada tem como principais consequências o aumento do lixo eletrônico e o esgotamento de recursos naturais — Foto: Unsplash/John Cameron
O que é obsolescência programada?
Obsolescência programada é uma prática na qual fabricantes projetam intencionalmente produtos para que se tornem inutilizáveis ou obsoletos após um período determinado de tempo. O objetivo é estimular a compra de novos produtos regularmente, e a prática é bastante aplicada no contexto tecnológico, já que, se produtos como geladeiras e fogões fossem tão duráveis quanto um carro, poucas pessoas iriam trocá-los com frequência.
A ideia por trás da obsolescência programada, portanto, é que, ao limitar a vida útil de um produto, os fabricantes consigam criar uma demanda contínua, assegurando um fluxo de receita. No entanto, a prática econômica é frequentemente criticada por ser vista como antiética e insustentável. Argumenta-se que as medidas promovem um consumo desnecessário e geram desperdício de recursos. Além disso, é fato que elas contribuem para problemas ambientais, como o aumento da quantidade de resíduos e a exploração excessiva de matérias-primas.
Tipos de obsolescência programada
Dentro do conceito amplo de obsolescência programada, é importante destacar que existem diferentes tipos e abordagens que as empresas podem adotar para limitar a vida útil de um produto. Os tipos variam entre características e impactos, e podem ser mais ou menos evidentes para os consumidores. Alguns são baseados em decisões de design e engenharia, enquanto outros exploram as percepções e comportamentos dos consumidores.
A obsolescência técnica ou sistêmica é a que gera mais produção de lixo de maneira imediata. Ela acontece quando um produto é projetado para falhar após um certo período de tempo ou número de utilizações. Em muitos casos, ainda, é possível que o conserto do produto supere o valor da compra de um novo, o que estimula o ciclo de produção e descarte mais uma vez.
Obsolescência pode ser tecnológica, de compatibilidade ou percebida — Foto: Unsplash/Eirik Solheim
Já a obsolescência de compatibilidade ou de atualização é bastante recorrente em celulares e PCs e ocorre quando um produto torna-se obsoleto porque já não pode ser atualizado ou não é compatível com novas tecnologias. Este tipo de obsolescência pode ser identificada a cada atualização de sistema operacional. Junto com o anúncio de cada nova versão do software, também costumam ser anunciados os modelos de aparelhos que serão “abandonados” pela fabricante.
Outro tipo é a obsolescência percebida, mais ligada ao âmbito social. O fenômeno acontece quando os consumidores acreditam que um produto está desatualizado, mesmo estando em perfeito estado de funcionamento. Isto pode ser o resultado de mudanças na moda, de pressão social ou de lançamentos de novos modelos com características ligeiramente melhoradas.
Alto preço de conserto é um dos grandes sintomas da obsolescência programada — Foto: Lucas Medes/TechTudo
Como as marcas praticam a obsolescência?
As marcas podem praticar a obsolescência programada de várias maneiras. Uma delas é reduzir a durabilidade dos produtos, produzindo-os com materiais mais baratos ou de baixa qualidade. As empresas podem projetar produtos de forma que seja difícil ou impossível repará-los. Isto significa que, quando algo quebra, o consumidor não tem outra opção a não ser comprar um produto de substituição.
Outra maneira é por meio da aceleração da obsolescência percebida. As marcas lançam constantemente novas versões de produtos com pequenas atualizações ou mudanças de design e somam as atualizações a grandes campanhas de marketing. Isto cria a percepção de que os modelos antigos são inferiores, mesmo que ainda funcionem perfeitamente bem. O lançamento frequente de novas versões de software que não são compatíveis com hardwares mais antigos é outro exemplo da prática.
Aumento constante do lixo eletrônico é uma das principais consequências da obsolescência programada — Foto: Nicolly Vimercate/TechTudo
Impactos ambientais e financeiros da obsolescência programada
A obsolescência programada tem diversos impactos ambientais negativos. A produção constante de novos produtos requer uma quantidade significativa de recursos naturais e energia. Como eles são projetados para serem descartados após um curto período de tempo, isto leva ao acúmulo de resíduos, o que é problemático, especialmente quando se trata de eletrônicos que contêm substâncias tóxicas, como mercúrio e cádmio.
Do ponto de vista financeiro, a obsolescência programada pode ser prejudicial para os consumidores, que acabam gastando mais dinheiro ao longo do tempo substituindo produtos que poderiam ter uma vida útil mais longa. Isto também afeta a economia em geral, pois recursos financeiros que poderiam ser usados de maneiras mais produtivas são gastos na substituição de itens.
Principais casos de obsolescência programada
Uma das acusações mais notáveis envolve a Apple, que em 2017 foi acusada de deixar iPhones antigos mais lentos por meio de atualizações de software. A empresa alegou que isto era necessário para evitar desligamentos inesperados devido à degradação da bateria, mas muitos viram a medida como uma forma de obsolescência programada. A empresa acabou pagando uma multa milionária em acordos legais. Em 2022, a empresa começou a ser investigada também por exigir um número de série do produto antes de liberar peças de hardware para conserto “self service” de iPhones.
A Samsung em 2022 uma política para combater a obsolescência programada. A empresa prometeu fornecer atualizações de software por um período mais longo e produzir telefones que sejam compatíveis com versões futuras de seu sistema operacional. A mudança foi vista como uma tentativa da empresa de se diferenciar e abordar as preocupações dos consumidores sobre a obsolescência programada.
Regulações contra a prática da obsolescência programada
França e Brasil são exemplos de países que têm leis voltadas à coibição da obsolescência programada — Foto: Getty Images
Em resposta às preocupações sobre a obsolescência programada, alguns governos têm implementado regulamentações para combater a prática. Na União Europeia, por exemplo, foram introduzidas várias medidas para promover a sustentabilidade dos produtos. Isto inclui a exigência de que os fabricantes forneçam peças de reposição e a implementação de padrões de eficiência energética mais rigorosos.
A França introduziu uma lei em 2015 que torna ilegal a prática de obsolescência programada, com penalidades severas para empresas que sejam consideradas culpadas de encurtar intencionalmente a vida útil de seus produtos. As iniciativas representam um esforço para proteger os consumidores e o meio ambiente contra os impactos negativos da obsolescência programada.
No Brasil, a Lei n° 8.078 de 11 de setembro de 1990 aborda a questão. De acordo com o artigo 32, “fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto”. A lei também diz, em parágrafo único, que, em caso de encerramento da produção ou importação dos produtos, a oferta dos componentes deve ser mantida por tempo razoável, de acordo com o que prevê a legislação.
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